Segundo os princípios da Gestalt, a percepção total que temos de um conjunto de objetos não é a mesma que teríamos da soma de suas partes. A Psicologia da Forma compreende o elemento ilusionista que rege estruturalmente a nossa percepção real. Aqui, os trabalhos de Felipe Cohen levam adiante as virtualidades criadas pelo espaço geométrico: a forma de um volume – ainda que parcial, apenas sugerida – pode se complementar no nosso cérebro tanto pelo jogo de reflexos e sombras, quanto, simplesmente, pela nossa predisposição mental a completar virtualmente a sua forma.
Cohen é um artista contemporâneo baseado em São Paulo. Singular, sua poética tem algo de desviante, que estabelece laços, mas não abraça inteiramente a assertividade racional da matriz construtiva que alimentou o Concretismo. Tem algo de esquivo nessa ambiguidade formal e perceptiva, que dialoga mais com a geometria artesanal de Alfredo Volpi e seu universo onírico, com as geometrias discretas de Willys de Castro e Judith Lauand, com as linhas abertas das monotipias de Mira Schendel, e com os paradoxos irônicos de Waltércio Caldas e de Cildo Meireles.
Raciocínio semelhante vale também para o mobiliário de Percival Lafer, que opera com geometrias evidentes, tais como retas e semicírculos, em materiais rígidos e moles, criando uma relação entre estrutura e assento na qual a visão do conjunto resulta diferente da soma de suas partes.
Em tempos de realidades virtuais e aumentadas, esses trabalhos nos ajudam a posicionar melhor a nossa percepção. Aqui, a ambiguidade entre arte e mundo real representa uma superação da pedagogia moderna, e, ao mesmo tempo, uma afirmação do corpo e da experiência concreta, ilusória porque real. Na soma, tudo certo: como dois e dois são cinco.